Você certamente conhece alguém dramático. Pode ser algum parente, que parece que adora ter um motivo banal para sofrer, ou aquele amigo que já começa a fazer pipoca quando a treta acontece. E por mais que pareça, na nossa sociedade, que este seja um traço de personalidade meio questionável, psicólogos estão cada vez mais interessados em entender como certas personalidades buscam se inserir no drama (ou criá-lo para si mesmas), uma vez que essa atitude pode ter sérias consequências não apenas para si mesmo, mas para os outros ao redor.
"Pessoas com personalidades dramáticas têm, em geral, vidas caóticas, e frequentemente criam crises entre familiares, amigos e colegas de trabalho", explica o time de pesquisadores da Universidade do Texas. Pessoas "altamente dramáticas" normalmente possuem longas histórias de relacionamentos fracassados, tendem a procurar conflito no trabalho ou nas redes sociais e, além de apreciarem a fofoca, reclamam quando são alvo dela.
"Essas pessoas parecem ver o mundo como se tudo só acontecesse com elas", explicaram os pesquisadores no periódico Personality and Individual Differences, "o que em geral os torna reativos a contradições". Os estudiosos, então, chegaram a um tipo de traço psicológico, chamado "Need For Drama" (NFD). Pessoas com NFD tem um traço de personalidade que "manipula outros para a posição de vitimização", e a partir desse levantamento, o time criou uma nova escala de avaliação para medir o efeito deste traço de personalidade em um indivíduo. A escala é baseada em três fatores:
Manipulação interpessoal: "caracterizada pelo impulso de influenciar outras pessoas para se comportarem de maneira que sirvam para que o manipulador conquiste seu objetivo";
Impulsividade conversacional: "caracterizada pela compulsão de uma pessoa a falar de si e compartilhar opiniões, mesmo que de forma inapropriada e sem se importar com as consequências sociais";
Auto-vitimização persistente: "a propensão a constantemente perceber a si mesmo como vítima das circunstâncias da vida que muitas pessoas entenderiam como benignas".
Após testarem uma variedade de medidas diferentes para identificar os NFD, o time, liderado por Scott Frankowski, chegou a este teste com doze perguntas, que testam características como paranoia, comunicatividade e autoabsorção:
1) Às vezes é divertido deixas as pessoas agitadas
2) Às vezes falo mal de alguém e torço para que a pessoa descubra
3) Eu digo e faço coisas só pra ver como os outros vão reagir
4) Às vezes jogo as pessoas uma contra a outra para conseguir o que quero
5) Eu penso muito antes de falar
6) Eu sempre falo o que penso, mas pago o preço por isso depois
7) É difícil para mim guardar a minha opinião
8) Pessoas que agiam como se fossem meus amigos já me traíram pelas costas
9) Muita gente fala mal de mim pelas costas
10) Já me perguntei muito por que tanta coisa maluca acontece comigo
11) Sinto que muita gente quer se vingar de mim ou me fazer mal
12) Muita gente já fez coisas ruins para mim
Segundo o psicólogo Scott Barry Kaufman, da Universidade da Pensilvânia (e que não foi envolvido na pesquisa), após escolherem quase 500 voluntários para o teste, perceberam que quem fez uma pontuação alta na escala NFD eram mais propensos a demonstrar traços de personalidade mais sombrios, como psicopatia, narcisismo e traços maquiavélicos.
Pessoas com altos índices de comportamento NFD também possuem alta tendência à fofoca, comportamento neurótico e foco externo de controle, ou seja, o sentimento de que você não pode evitar as coisas ruins que acontecem a você, mesmo que sejam em parte sua culpa.
Ainda que o teste pareça divertido e claramente não seja a última palavra nos estudos de personalidade, esses resultados são importantes, porque permitem que os pesquisadores diferenciem a necessidade de drama de outros traços, como borderline ou personalidade histriônica. Também é importante porque todos esses traços possuem características similares, embora borderlines e histriônicos sintam necessidade de se ferirem, enquanto o NFD não age desta forma. Logo, o traço NFD é menos severo, uma versão não-clínica desses outros comportamentos, e saber disso pode ajudar psicólogos e psiquiatras a entender e tratar melhor seus pacientes.
O estudo também coloca fim ao mito da "drama queen", que é sexista e falso. Como Kaufman explica, a personalidade NFD não depende de gênero; homens e mulheres pontuaram igualmente no teste. "Clínicos sempre atribuíram esses traços de personalidade a mulheres, mas conheço um monte de homens que também exibem personalidadades bastante dramáticas", explicou. É hora de deixar a expressão "drama queen" morrer.
Fonte: Revista Galileu
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